29 de novembro de 2010
Prof. Dr. José Antonio Rivera Ramos
Faculdade Maurício de Nassau-Curso de Administração
Dolarização, Globalização, mundialização da economia foram às armadilhas nas quais a maioria dos países ficaram enroscados em função do chamado Consenso de Washington, (uma visão do neoliberalismo econômico), que colocou sob as forças do mercado o futuro do crescimento e do desenvolvimento econômicos do mundo capitalista da América Latina.
Na realidade, se determinou na ocasião uma vez mais a submissão das economias latino-americanas às decisões políticas e de estratégia unilateral dos países ricos em manter sua hegemonia global. Consolidava-se assim, a divisão do mundo entre as nações ricas e lideres do mundo que demandam produtos primários as chamadas commodities e na outra margem, as nações dependentes de capital internacional financeiro, principalmente do capital financeiro especulativo, que precisava encontrar um cenário e ambientes propícios para usufruir das elevadas taxas de juros existentes nos países emergentes, para depois mais volumosos retornar às suas nações de origens, com ganhos financeiros expressivos. Na realidade os países emergentes se converteram em meras economias de transferências de poupança interna para os países mais desenvolvidos.
Uma equação muito simples, aplicar em mercados financeiros dos países emergentes que precisam de recursos financeiros, para alavancar seus projetos de investimentos em setores estratégicos e até em muitos casos para financiar seus déficits crescentes nos orçamentos de ingressos e despesas e em compensação oferecem elevadas taxas de juros ao capital internacional.
Esse esquema funcionou quase que perfeitamente até que uma forte turbulência no ano de 2008 atingiu o coração de Wall Street (Bolsa de Valores de Nova Iorque), principalmente às empresas do setor imobiliário, primeiro contaminando o setor financeiro para depois atingir os fundamentos macroeconômicos da economia norte-americana e espalhar-se para o resto do mundo, afetando e colocando em risco as bases do sistema capitalista.
Desta vez a instabilidade estava embasada numa crise sistêmica. De uma crise financeira global, em outras palavras, o mundo assistia em pânico a quebradeira de importantes empresas do setor imobiliário e financeiro, nas quais milhares de cidadãos americanos e do resto do mundo haviam colocado suas poupanças de toda uma vida.
A crise financeira deixou ao descoberto as patranhas e as ações financeiras temerárias que os operadores das finanças da Bolsa de Valores haviam praticados durante muitos anos. Sem que ninguém se importasse com isso, tendo em vista de que a economia estadunidense crescia a um ritmo alucinante e todo mundo ganhava com o dinamismo das ações na Bolsa de Valores e o consumo interno aparentemente não teria mais fim, tudo se produzia e tudo se vendia.
A crise sistêmica forçou ao governo norte-americano a aplicar medidas econômicas urgentes, para equacionar a inevitável ruína de milhares de empresas, e a perda de empregos de milhões de pessoas e finalmente o esvaziamento das aplicações financeiras internacionais no coração de Manhattan.
O governo pressionado pelos eminentes sinais de uma recessão econômica foi buscar uma vez mais, os remédios para combater as ameaças de falência generalizada dos agentes econômicos, nos fundamentos dos princípios do liberalismo clássico, na teoria keynesiana, (foram aplicados pela primeira vez na crise de 1929- o chamado New Deal de Franklin D. Roosevelt), princípios estes que defendem a forte participação e intervenção do Estado na economia através de investimentos direcionados para gerar emprego e renda, estimulando a demanda e o consumo das famílias, empresas e até do próprio governo.
Muitos dólares foram aplicados e alavancados para salvar as empresas privadas falidas, que irresponsavelmente apresentaram seus balanços contábeis durante muitas décadas o que não possuíam, trapaceando seus demonstrativos de resultados operacionais e resultados financeiros, enganado todo mundo, inclusive ao próprio governo (Reserva Federal ou Banco Central norte-americano). Linhas de crédito (transferências diretas) para as empresas e instituições financeiras foram aprovadas, em torno de mais de 700 bilhões de dólares do tesouro norte-americano foram emprestados para devolver a liquidez ao sistema financeiro e assim evitar o caos generalizado entre os agentes econômicos e financeiros da economia norte-americana.
O cenário de contração da demanda e da oferta dos setores produtivos foram ficando evidentes, os pavores de uma nova recessão nos moldes a de 1929, assustava a todos inclusive aos parceiros comerciais e de negócios da economia norte-americana, afinal ainda o mercado americano representa um destino importante das exportações da grande maioria das nações do mundo.
A pesar dos esforços do governo norte-americano de incentivar o consumo interno e alavancar os investimentos dos setores produtivos, a recuperação econômica não tem acontecido na velocidade que o país precisa ainda o setor imobiliário caminha a passos lentos, a indústria não mostra o fôlego de antes da crise.
Em função disso, recentemente o governo dos Estados Unidos aprovou uma série de medidas para tentar espantar a inércia dos fundamentos econômicos.
Dentre as medidas mais polêmicas que tem incomodado o resto do mundo, tem sido a de colocar no mercado uma enxurrada de 600 bilhões de dólares, para aumentar a liquidez interna e estimular o consumo doméstico e por sua vez atrair investimentos do exterior.
Essa medida, que num olhar rápido parece não representar maiores problemas para as economias do resto do mundo, ela representa uma tentativa de salvar os “negócios da América”. Defender os negócios da América é uma mensagem bem clara de que o governo americano uma vez mais mostrou ao mundo, que os interesses internos do país estão em primeiro lugar, à soberania econômica é uma questão que deve ser seguida à risca pelos países fortes, mesmo que isso signifique problemas para a soberania dos demais países.
Num momento em que o mundo se debate com a perda sistemática do valor do dólar (quando existe excedente de uma mercadoria, a tendência do preço é cair) com o fortalecimento das moedas nacionais, como é o caso do Brasil, encher o mercado com mais dólares coloca em perigo a estabilidade econômica de muitos países que a duras penas e sacrifícios saíram na última década do cenário de inflação galopante e até de hiperinflação.
Uma redução no valor da moeda norte-americana induzida pelo aumento da oferta dessa moeda, na conjuntura atual coloca em risco o controle sobre o balanço de pagamentos, principalmente no que diz respeito à balança comercial (que registra as exportações e importações dos países). O aumento da oferta de dólares terá em médio prazo, um maior fortalecimento das moedas nacionais e, por conseguinte uma queda maior do valor do dólar.
Recentemente na reunião dos G-20 na Coréia do Sul, muitos países levantaram preocupados com o atual cenário internacional, varias propostas como, por exemplo, que os países adotassem o câmbio flutuante como é caso do Brasil, o retorno do padrão ouro, a criação de uma moeda nos moldes do sistema atual de pagamentos do Fundo Monetário Internacional, (FMI), os chamados Direitos Especiais de Giro (DEG), porem, nenhuma dessas propostas foram adotadas e nada foi decidido.
Finalmente nessa reunião ficou claro o seguinte: se trata de uma disputa internacional na qual cada país busca manter sua estabilidade econômica interna que gere emprego, renda, consumo e demanda. Nunca se falou tanto de soberania econômica. Traduzindo, cada um procure como sobreviver à crise, que pelo cenário atual (recessão na América do Norte e complicações econômicas na zona do Euro) sinais que parecem indicar que os desdobramentos da crise iniciada em 2008 apenas estão em plena acomodação.
“Os Negócios da América são os Negócios da América” -. H. Hoover, Presidente dos Estados Unidos da América, DE 1929-1933).